Escrito por Maria Luísa Souto,
6 minutos de leitura
Coragem e igualdade: o papel das mulheres na transformação da tecnologia
A presença das mulheres na tecnologia não pode ser uma concessão, e sim uma necessidade para o desenvolvimento de soluções inclusivas e eficazes
Ao iniciar minha jornada acadêmica na área de tecnologia, fui profundamente impactada por uma TED Talk apresentada por Reshma Saujani, fundadora da organização Girls Who Code. Essa palestra transformou completamente a minha maneira de ver o mundo e, com esse texto, o meu objetivo é provocar em você uma reflexão similar àquela que me atingiu.
Um dos principais pontos abordados por Saujani foi a diferença de tratamento entre meninas e meninos desde a infância. Desde cedo, as meninas são ensinadas a buscar a perfeição em tudo o que fazem, a se proteger, a cuidar do lar, a evitar riscos. Enquanto isso, os meninos são encorajados a enfrentar desafios, a subir em árvores, a cair e levantar, a estarem sempre prontos para tentar novamente.
À primeira vista, essa distinção pode parecer sutil e pouco significativa, mas seu impacto a longo prazo é imenso. Nossa infância é o alicerce sobre o qual construímos crenças e comportamentos que carregamos por toda a vida. A ausência de incentivos à coragem e à assunção de riscos, particularmente em áreas como a tecnologia, onde inovar e aprender com erros são essenciais, cria barreiras invisíveis que dificultam o progresso das mulheres.
A realidade atual do setor tecnológico no Brasil reflete essa desigualdade. De acordo com um estudo da Serasa Experian, apenas 0,07% das mulheres estão empregadas no setor de TI, comparado a 0,33% dos homens. Além disso, dados do IBGE indicam que, entre 2012 e 2022, a participação feminina nos cursos de Ciência da Computação e Tecnologia da Informação caiu de 17,5% para 15%. Esses números revelam a profundidade das barreiras estruturais que desestimulam a presença feminina em áreas tecnológicas, perpetuando estereótipos e limitando o potencial de inovação.
Ao longo da minha trajetória acadêmica, muitas vezes ouvi comentários como “você só conseguiu essa nota porque é mulher” ou “conseguiu essa vaga porque a empresa quer diversidade”. Essas falas, impregnadas de preconceito, não apenas reforçam estereótipos, mas também subestimam nossos esforços e competências, reduzindo nossas conquistas a uma questão de gênero. Ignorar o mérito e a dedicação que colocamos em nosso trabalho é perpetuar a desigualdade e minar a confiança de mulheres que lutam para se destacar em um ambiente majoritariamente masculino.
Hoje, tenho a sorte de trabalhar em uma empresa que valoriza a igualdade de gênero e proporciona um ambiente seguro, onde as mulheres são incentivadas a crescer e se desenvolver, onde as oportunidades existem de fato e podem ser alcançadas. Isso me faz refletir e entender que a igualdade vai muito além da questão salarial; trata-se de respeito no dia a dia, de como nossas ideias são consideradas e de como somos tratadas no ambiente de trabalho. São as atitudes cotidianas que realmente demonstram se há respeito e equidade.
Mas, infelizmente, sei que essa não é a realidade para a maioria das mulheres no setor de tecnologia. Ainda enfrentamos enormes desafios, desde a desconfiança em nossa capacidade até a persistência de estereótipos que sugerem que certas áreas “não são para mulheres”. A questão não é apenas oferecer oportunidades iguais, mas sim mudar a raiz do problema, o que exige um esforço coletivo. Precisamos incentivar nossas meninas a serem corajosas, a enfrentarem desafios de frente e a não se intimidarem. Ao mesmo tempo, precisamos criar ambientes de trabalho justos e inclusivos, onde suas habilidades sejam genuinamente valorizadas.
A participação feminina no setor de tecnologia não pode ser vista como uma concessão, mas como uma necessidade fundamental para o desenvolvimento de soluções mais inclusivas e eficazes. A disparidade de gênero não é apenas uma questão de inclusão, mas uma limitação ao potencial criativo e inovador da sociedade. Esse é um percurso árduo, contínuo e desafiador. Mas é através dele que seremos capazes de transformar realidades, rompendo barreiras e construindo um futuro mais justo, inclusivo e promissor para todos. É hora de sermos a mudança que queremos ver. Incentivemos nossas meninas a sonharem sem limites, a desafiarem o status quo e a ocuparem, com coragem e competência, o lugar que lhes pertence. Juntos, podemos criar uma sociedade em que a igualdade não seja apenas uma meta, mas uma realidade palpável. O futuro está em nossas mãos, e a hora de agir é agora.