Escrito por Yasmim Furtado,

5 minutos de leitura

Design centrado no usuário para pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo

Você já parou para pensar na acessibilidade para o público que tem Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)?

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Cada vez mais, o assundo acessibilidade vem sendo abordado, e é sempre um desafio encontrar uma metodologia que auxilie na adaptação de um sistema para um público com necessidades especiais. Um desses públicos, que tem necessidades e particularidades próprias, são as pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

O TEA caracteriza-se como distúrbio do neurodesenvolvimento, acarretando principalmente em déficits relacionados à comunicação e à interação social. Desenvolvimento atípico, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, um repertório restrito de interesses e atividades são apenas alguns dos sintomas que caracterizam o distúrbio. Sendo assim, pessoas com TEA podem apresentar algumas características, como alta valorização de rotina, ordem e previsibilidade, dificuldade com imaginação e metáforas, maior compreensão de elementos visuais, lógicos e concretos e questões relativas a manutenção do foco.

No caso de ambientes digitais, existem alguns artifícios que podem ser utilizados para proporcionar uma melhor experiência para pessoas com autismo. A utilização de procedimentos baseados no Design Centrado no Usuário (DCU) pode fazer uma enorme diferença na criação dessas soluções. O DCU cria sistemas que se relacionam com as crenças dos usuários, seu comportamento e a maneira como veem o mundo, pois se concentra nas necessidades e requisitos desses usuários.

Tendo isso em mente, de modo mais geral, existem algumas particularidades simples que devem ser levadas em conta na hora de desenvolver soluções digitais para o público com TEA, sendo extremamente importante aplicá-las sempre que for possível.

 

Uso de cores

Observar o contraste entre as cores dos elementos e do fundo é muito importante ao se desenvolver sistemas para públicos com TEA. O ideial é dar preferência a fundos de cores claras ou da cor branca, para dar mais destaque aos componentes e textos em primeiro plano. Utilizar as cores de forma padronizada, para relacionar conteúdos similares, também é uma ótima prática!

 

Compatibilidade com o mundo real

Comumente, pessoas com TEA podem ter dificuldades em lidar com metáforas. Sendo assim, é sempre bom, ao fazer uso de ícones, imagens e nomeclaturas de ações, representá-las de forma mais concreta possível, para que possa ser facilmente relacionada com a vida cotidiana.

 

Fuja de metáforas e figuras de linguagem

Como citado no tópico anterior, pessoas com TEA apresentam dificuldades em compreender metáforas. Dessa forma, o ideal é se fazer uso de uma linguagem visual e textual simples, clara e objetiva. É importante evitar dialetos, gírias, erros de ortografia, abreviações e acrônimos. Ao mesmo tempo, é altamente recomendável uso de termos, expressões, nomes e símbolos familiares ao contexto dos usuários.

 

Nada de sons altos

Hipersensibilidade sensorial é uma característica muito comum em pessoas com Autismo. Em alguns casos, as luzes e as cores se tornam brilhantes demais e os sons se tornam bem intensos. Sendo assim, os sons devem ser utilizados com cautela, enquanto sons que possam ser pertubadores ou explosivos, como sirenes ou fogos de artifício devem ser evitados, pois podem causar estresse e frustração desnecessários.

 

Existem diversas indicações de boas práticas para a criação de sistemas e interfaces para pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo. Um bom exemplo é o GAIA, Guidelines for Accessible Interfaces for people with Autism ou Guia de Acessibilidade de Interfaces Web com foco em aspectos do Autismo. O GAIA pode ser compreendido como um conjunto de recomendações voltado para desenvolvedores e educadores com foco no desenvolvimento de soluções digitais para pessoas com TEA. O objetivo do guia é definir o que funciona (e o que não funciona) para pessoas com autismo e construir um acervo de boas práticas. Essas boas práticas podem ser organizadas em dez agrupamentos, que listo a seguir.

 

+++ Vocabulário visual e textual

Esse tópico abrange informações como a escolha de cores, a legibilidade e clareza dos textos utilizados, além da escolha de ícones que sejam compatíveis com o mundo real, assim como abordado nas heurísticas de Nielsen, correspondência entre o sistema e o mundo real.

 

+++ Customização

Aborda a importância de o sistema poder ser customizável, como permitir troca de cores, sons, imagens, de forma que atenda as preferências pessoais de cada usuário.

 

+++ Engajamento

Diz respeito à importância de uma interface limpa, que forneça instruções claras sobre as tarefas e evitando elementos que possam distrair ou que interfiram no foco ou na atenção.

 

+++ Representações redundantes

Outros formatos de comunicação (além do textual) devem ser empregados na apresentação de conteúdo. Além disso, imagens, ícones e símbolos devem, sempre que possível, conter o texto equivalente próximo à imagem, de forma a explicá-los. Também é importante a presença de legendas para áudios e vídeos, mas essa não deve ser a única representação alternativa de conteúdo.

 

+++ Multimídia

Como dito anteriormente, esse tópico aborda a importância de fornecer as informações em diferentes formatos, pois isso aumenta a atratividade do conteúdo para pessoas com TEA. Também é importante que, ao fazer uso de imagens, elas possam ser ampliadas para melhor visualização.

 

+++ Visibilidade do estado do sistema

Outro tópico semelhante ao que aparece nas Heurísticas de Nielsen refere-se à importância de feedbacks consistentes, que auxiliem o usuário a saber o que está acontecendo no momento da interação, evitando confusão e frustração ao mesmo.

 

+++ Reconhecimento e previsibilidade

Esse tópico corresponde à importância da manutenção da consistência em todo o sistema. Elementos similares devem produzir resultados parecidos entre si, para não gerar confusão no usuário. Além disso, é recomendado o uso de botões maiores, aumentando a área de toque, tomando o cuidado para garantir que eles pareçam clicáveis.

 

+++ Navegabilidade

Como a previsibilidade é muito importante para pessoas com TEA, esse tópico traz justamente uma visão sobre isso. Um fluxo de navegação simples possibilita um ambiente controlado e com menos distrações. Também é importante evitar redirecionamentos automáticos.

 

+++ Resposta às ações

Diz respeito à utilização de feedbacks consistentes, indicando sobre ações corretas e alertando sobre possíveis erros.

 

+++ Interação com tela sensível ao toque

Um tópico muito importante para sistemas desenvolvidos para pessoas com TEA, pois os mesmos são mais receptivos a interação com telas sensíveis ao toque. Nesses aparelhos e sistemas, a sensibilidade deve ser adequada, visando prevenir erro de seleções e toque acidental em elementos da tela.

 

Existem outras diversas recomendações que podem ser estudadas mais a fundo, garantindo uma melhor experiência para os usuários desse público (e de outros também). O próprio GAIA apresenta um material rico e que discorre de forma bem completa sobre todas as informações abordadas aqui de forma resumida. Também é importante salientar que um sistema criado através de um olhar que garanta a acessibilidade não é feito só para esse público, mas garante o entendimento de todos e uma melhor utilização.

 

Referências

Definição – Transtorno do Espectro Autista (TEA) na criança

GAIA – Sites inclusivos a pessoas com autismo

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